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sexta-feira, 10 de junho de 2011

09/06/2011

A Magia de Certas Canções


Ana Carolina diz, numa música até bem recente, que a canção tocou na hora errada.
Deve ter doído quando ela escreveu isto. Mas não deve ter doído tanto, quanto, quando, tocou a canção que a levou a escrever isto.
Cazuza, grande poeta de sua geração, preferiu dizer que após uma ruptura, “a nossa música nunca mais tocou”. Como se ele quisesse dizer, dizendo, que enquanto estava tudo bem, a música tocava no rádio do carro, no escuro do quarto, no alto-falante do supermercado e do elevador. E que depois do fim da relação havia se diluído, dissipado, virado pó, como o amor das pessoas envolvidas naquela relação.
São geniais os nossos poetas da canção e eles foram, de certa forma, responsáveis pelo desvio de rota que culminou fazendo de mim um escrevinhador de coisas.
Na adolescência, tornei-me ávido leitor de encartes de discos. Sabia bastante do que escreviam nossos letristas. Era apaixonado pelas colchas de retalhos de Belchior, o romantismo de Dolores Duran e as genialidades de Chico Buarque.
Chico tinha uma facilidade enorme de entender e revelar a alma feminina.
Versátil, era também uma voz da resistência que lutou contra a ditadura militar municiado apenas de versos, disparando verbos contra os opressores do povo do Brasil. Fez um rombo enorme sem detonar um único coquetel Molotov, driblando a censura com jogadas de craque e um pseudônimo brasileiríssimo: Julinho de Adelaide.
Belchior é de uma geração posterior, desceu do Ceará ao Sul Maravilha como muitos de seus conterrâneos. Seu pau-de-arara imaginável parou na porta de Elis Regina, e ela o apresentou ao Brasil.
Misturou o cordel das feiras com suas incursões beatniks, e viagens na asas dos Beatles e panfletismos de Bob Dylan. Foi dele o primeiro disco que comprei, um compacto duplo que tinha no lado A o sucesso “Apenas um Rapaz latino-americano”.
Dolores Duran colou em Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Ela fez coisas lindíssimas, com destaque especial para Noite do Meu Bem.
Era uma mulher boêmia, de alma atribulada e traduzia como os melhores de sua raça, a alma dos que sofrem por amor.
No dia 23 de outubro de 1959, com 29 anos, chegou em casa às 7:00 da manhã, e disse para sua empregada: “Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer”.
E morreu mesmo.
Parada cardíaca fulminante.
São muitos os nossos grandes compositores e suas histórias geniais. Se fosse para escrever sobre todos eles, passaria o ano inteiro aqui. Diante desta impossibilidade, separei alguns versos marcantes, que quero dividir com vocês.
“Vem, vamos embora, que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora, não espera acontecer ““.
(Geraldo Vandré – Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)

“Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos/ Ainda somos os mesmos e vivemos Como nossos pais”
(Belchior - Como Nossos Pais)
“Ah, se ao te conhecer / dei pra sonhar, fiz tantos desvarios/ rompi com o mundo, queimei meus navios/ Conta-me agora como hei de partir”
(Chico Buarque - Eu te amo)
“Ando devagar porque já tive pressa/ e levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história / e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, e ser feliz”
(Almir Sater e Renato Teixeira – Tocando em Frente)
“Mas a lua furando nosso zinco/ Salpicava de estrelas nosso chão. E tu pisavas nos astros distraída”
(Silvio Caldas e Orestes Barbosa – Chão de Estrelas)
Interrompo as escrevinhações para atender um telefonema de Paulinho Pedra Azul, ele próprio um bamba da canção.
Falo da crônica, cito os versos escolhidos e peço que refresque minha memória, sugerindo mais algum verso importante. Ao que ele respondeu:
- E precisa mais?
Com a palavra, o leitor do BV.

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